sábado, 29 de junho de 2013

80. ROUSSEL E A EDUCAÇÃO NATURAL.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:
http://www.comunidademaconica.com.br/artigos/7220.aspx

Rousseau e a Educação Natural 

Enviado por  em sexta-feira, 22 de abril de 2011

A educação natural rejeita toda e qualquer tentativa de intelectualização da educação; na Maçonaria qualquer pessoa tem acessos e facilitadores a complexos pensamentos filosóficos...
Rousseau (1712-1778) disse que"Toda a nossa sabedoria consiste em preconceitos servis; todos os nossos usos não são senão sujeição, embaraço e constrangimento. O homem civil nasce, vive e morre na escravidão; ao nascer, envolvem-no em um cueiro; ao morrer, envolvem-no em um caixão; enquanto conserva sua figura humana está acorrentado a nossas instituições". (Emílio, ou da Educação, Rousseau, São Paulo, Difel). Rousseau foi o mentor inicial da educação natural, cujas idéias foram depois reforçadas, melhor definidas e ampliadas por Kant (1724-1804). Estabeleciam um gradativo retorno à natureza, não de forma a transformar o homem em selvagem, mas pela naturalização comportamental e espontaneidade dos sentimentos.

Papéis significativos foram também desempenhados por Diderot (1713-1784) eHelvétius (1715-1771), quanto à importância no desenvolvimento pessoal usando como mola propulsora as paixões positivas e que rejuvenesceriam o mundo moral. Para obter a liberdade individual, as paixões positivas desempenhariam valor vivificador no mundo moral. Os combates às paixões do maçom dizem respeito àquelas associadas ao vício e licenciosidade, já as paixões ligadas às virtudes e benéficas à educação natural do homem são fortemente incentivadas.

A escravidão sempre se baseia na falta de educação; é muito mais fácil dominar o ignorante, violento e amoral que o indivíduo esclarecido, ou iluminado pela educação. Quando a escola era domínio da religião, ela disseminava a semente da dominação absoluta do rei para assuntos políticos e da religião para assuntos metafísicos; assim compartilhavam o poder apenas entre si. A educação antiga só era de fato acessível às elites e em todas as eras sempre representa uma forma de poder. Desde a invenção da escrita a manutenção do Estado era realizada pelo escriba, cargo que só os mais ricos e influentes obtinham. Em quase todas as civilizações a educação era controlada pela Teocracia - isto sempre restringiu o acesso ao conhecimento técnico aos iniciados na religião do Estado. No antigo Egito, Mesopotâmia, China, Índia, na tradição hebraica, enfim, todas as civilizações centralizaram o conhecimento nas castas mais abastadas da população, e principalmente, em iniciados em mistérios religiosos da religião do Estado. Assim funcionava até que os iluministas introduziram modificações na educação.

A educação natural, aquela voltada para a felicidade individual, laica e não intelectualizada reduziu a dominação absolutista. Normalmente em convulsões revolucionárias. O grande valor do trabalho de Rousseau na pedagogia é o fato de dar ao ensino público uma conotação política e de valorização do homem em todos os níveis sociais, disposição exposta quando afirma que a educação pública deve passar necessariamente por formação cívica, de identidade do cidadão com o país. Afirmava não ser a educação pública idéia dele e quem tivesse interesse, que lesse 'A República', de Platão. O ensino público e gratuito foi o veículo mais importante do Iluminismo que preconizava pelo uso da razão no combate às superstições e obscurantismo religiosos.

A Maçonaria é instrumento importante, não o único, na defesa da escola leiga, não relacionada a religião e função do Estado. Entre outras acusações, mas principalmente pelo posicionamento para a educação, a Ordem Maçônica foi objeto de violentas reações do poder dos estados, bem como, de bulas papais de condenação; ódio que até hoje não foi revogado. O medo dos poderosos não é tanto pela forma esotérica das reuniões dos maçons, mas principalmente pelo fato de pela educação natural libertar o pensamento do cidadão, conscientizando-o de seu papel na sociedade e no Universo. A ordem maçônica não concorda com posicionamentos radicais ou de concentração de poder, e isto lhe rende poderosos inimigos. A vingança de insidiosos perseguiu maçons; miríades morreram para manter a ação de educar o homem do povo em direção à liberdade.

Em sua época, Rousseau teve de fugir diversas vezes da perseguição. As bases de suas considerações pedagógicas declaravam que o homem em estado natural é bom, mas a sociedade dominada pela hipocrisia das instituições o corrompe, destruindo sua liberdade; dizia: - "o homem nasce livre e por toda parte encontra-se a ferros". Em termos políticos defendia que o povo é soberano, e para tal há necessidade de educar o ser humano integral; desenvolveu a idéia da educação natural - nos moldes do que os nobres praticavam em certa fase histórica de Atenas, na Grécia antiga, e hoje, na Maçonaria, tal procedimento é representado simbolicamente pelo homem esculpindo a si mesmo de dentro da rocha disforme.

A educação natural rejeita toda e qualquer tentativa de intelectualização da educação; na Maçonaria qualquer pessoa tem acessos e facilitadores a complexos pensamentos filosóficos apenas por nutrir-se da vasta coleção de símbolos e alegorias.

A linha de pensamento iluminista foi fortemente influenciada pela obra intelectual de Rousseau na educação, inclusive vai além do ato pedagógico e de formação humana que ele apresenta em 'Emílio' e depois complementa em 'Do Contrato Social'. Em conjunto estes trabalhos estabelecem conceitos de cidadania natural do homem na sociedade. O objetivo de Rousseau sempre foi o homem do povo; do cidadão com vistas ao desenvolvimento do homem natural; que não deve ser confundido com o homem da natureza, analisado em seu 'Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens'.

O homem natural é o melhoramento do homem da natureza, o cidadão como essência do homem civil, mesmo quando este convive em ambiente hostil às virtudes como acontece com o maçom hodierno. O afastamento de Emílio da influência perniciosa da sociedade é copiado pela Maçonaria quando suas reuniões acontecem longe e isoladas do mundo externo; num mundo idealizado, igualitário, perfeito para o desenvolvimento da educação do homem natural, que:
- É completo em si, a unidade e absoluto total, aquele que tem relação apenas para consigo e a coletividade;
- Como homem civil não é nada mais que uma fração em relação ao corpo social;
- Como indivíduo usa da razão e da universalidade da natureza do homem para usufruto da felicidade;
- O homem é em essência um representante da espécie humana que, dotado de razão, deve desenvolver-se através da educação natural para ocupar seu espaço no Universo.


Em seus estudos Rousseau define que o homem não se reduz apenas a sua condição intelectual, não é apenas razão e reflexão, mas condicionável pela educação a controlar sentidos, emoção, instintos e sentimentos, numa educação natural ativa voltada para usufruto da vida, por ação proativa e movimentada pela curiosidade. Algo assim é absorvido na vivência da rígida disciplina ritualística existente nos templos da Maçonaria, local onde muito de seu pensamento voltado para a educação natural foi adaptado e veio até nossos dias. A pretensão é a mesma da dos tempos de Rousseau - libertar o homem e torná-lo feliz; a Maçonaria apenas propicia os meios e o local para o homem se auto-educar.

Na ordem maçônica pratica-se a educação de si mesmo, a educação natural; que já é parte do projeto do homem. O entendimento é simples se considerar que o livre arbítrio permite apenas a existência da auto-educação. É bem diferente da educação voltada para o conhecimento, dirigida quase que exclusivamente para a escravidão, à alienação pelo trabalho. A educação natural está voltada para a liberdade do homem em sentido lato e através do qual honra o ato criativo do Grande Arquiteto do Universo.
Ir.’. Charles Evaldo BollerA.'.R.'.L.'.S.'. Apóstolo da Caridade Nº 21
Or.'. Curitiba - Grande Loja do Paraná


Bibliografia:
1. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, História da Educação e da Pedagogia, Geral e Brasil, ISBN 85-16-05020-3, terceira edição, Editora Moderna Ltda., 384 páginas, São Paulo, 2006;
2. CAPRA, Fritjof, A Teia da Vida, Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos, título original: The Web of Life, a New Scientific Understandding Ofliving Systems, tradução: Newton Roberval Eichemberg, ISBN 85-316-0556-3, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 256 páginas, São Paulo, 1996;
3. CAPRA, Fritjof, As Conexões Ocultas, Ciência para a Vida Sustentável, título original: The Hidden Connections, tradução: Marcelo Brandão Cipolla, 13ª edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 296 páginas, São Paulo, 2002;
4. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret, 140 páginas, São Paulo, 2007;
5. ROUSSEAU, Jean- Jacques, Emílio ou Da Educação, R. T. Bertrand Brasil, 1995;
6. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade Entre os Homens, tradução: Ciro Mioranza, primeira edição, Editora Escala, 112 páginas, São Paulo, 2007.


Biografias:
1. Diderot ou Denis Diderot o Filósofo, escritor, filósofo e maçom de nacionalidade francesa. Também conhecido por Denis Diderot. Nasceu em Langres, França em 5 de outubro de 1713. Faleceu em Paris, em 30 de julho de 1784, com 70 anos de idade. Um satirista que se tornou conhecido por sua conversa brilhante;
2. Fritjof Capra, autor, físico e teórico de sistemas. Nasceu em 1 de fevereiro de 1939, com 69 anos de idade;
3. Helvétius ou Claude Adrien Helvétius, escritor e filósofo de nacionalidade francesa. Nasceu em Paris em 26 de janeiro de 1715. Faleceu, em 20 de dezembro de 1771, com 56 anos de idade. As idéias de Helvétius influenciaram as doutrinas dos revolucionários franceses, a filosofia utilitarista de Bentham e também várias teorias democráticas e socialistas do século XIX;
4. Humberto Rohden, autor e professor de nacionalidade brasileira. Autor de: O Processo de Sindicância;
5. Kant ou Immanuel Kant, conferencista, filósofo, maçom, professor e teólogo de nacionalidade alemã. Nasceu em Königsberg em 22 de abril de 1724. Faleceu em Königsberg, em 12 de fevereiro de 1804, com 79 anos de idade. Geralmente considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna, indiscutivelmente um dos seus pensadores mais influentes;
6. Maria Lúcia de Arruda Aranha, autora e professora de nacionalidade brasileira. Licenciada em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo;
7. Platão ou Platão de Atenas, filósofo grego. Também conhecido por Aristócles Platão de Atenas. Nasceu em Atenas em 428 a. C. Faleceu em Atenas, em 347 a. C. Considerado um dos mais importantes filósofos de todos os tempos;
8. Rousseau ou Jean-Jacques Rousseau, ensaísta, escritor, filósofo, pedagogo e sociólogo de nacionalidade francesa. Nasceu em Genebra, Suíça em 28 de junho de 1712. Faleceu, em 2 de julho de 1778, com 65 anos de idade. Foi de suma influência na Revolução Francesa e no Romantismo.

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